
Jack Johnson é fruto da relação entre o mar e homem. Uma dialéctica transparente entre os acordes marítimos e as ondas de uma viola tocada de olhos postos na profundidade de um infinito.
O ponto de partida deu-se no Hawai. Praia, surf e o sonho comedido de quem se rege pelo balanço sincopado de um «set». Pelo meio ficaram filmes realizados por Jack Johnson em que o surf é abordado de forma de quem o respira. Na música cruzaram-se dois nomes: o amigo G. Love, e mais tarde o companheiro Ben Harper.
A voz de Johnson pode revelar um Brad Nowell em versão a solo, sem a urgência ska ou a aceleração hardcore dos bem-ditos Sublime. O blues parece ter sido uma lição aprendida numa tarde e não mais do que um contrato natural. Dave Matthews jamais se importaria de ficar com alguns destes temas. O sobrevivente neste preâmbulo é mesmo o mar.
Não que a música saia da rebentação de umas ondas revoltadas, mas tão somente porque a fogueira em fim de tarde é o ponto de confluência num tema em que se canta como refrão «It´s always better when we`re together». E a ligação não se reporta a um fogacho boçal de recuperação da mais deprimente combinação entre sol e dó.
«Banana Pancakes» convida a entrar em casa com a primeira frase «Can`t you see it`s just raining? There ain`t no need to go outside». É então o momento de retirar os sapatos e escutar o que se pode denominar «música-para-ouvir-descalço».
O funky de banda entra relaxado em «Good People» e «Sitting, Waiting, Wishing», com baixos pacientemente sentados em cima de pranchas à espera do próximo «set». «Staple It Together» auxilia-se aos mandamentos Motown encorpado em formato banda.
Os já referidos Sublime queriam participar num tema como «Crying Shame» se Jack Johnson não o transformasse num reggae-canção-mais-tarde-bluesy sem necessariamente repicar uma guitarra. O blues Mississippi muda de costa e leva o debitar de rimas urbano no tema «Breakdown». «Belle» aproveita-se do mar e viaja até Copacabana com Paris em mente.
Jack Johnson constitui o sonho húmido de quem aprecia vozes naturalmente afinadas. Os seus textos debitam uma simplicidade angustiante para os complexos, onde só uma mulher poderia interpretar a particularidade no elogio pragmático embrenhado na simplicidade de arranjos de «No Other Way», quando Jack canta «now please close your eyes. Woman, please get some sleep»
«In Beteween Dreams» tresanda a Verão e o sol de uma praça citadina rodeada de prédios pode transformar-se numa gigantesca costa ou uma noite numa charmosa artéria da cidade pode levar-nos até ao ensurdecedor silêncio do mar.
1 comentário:
"...constitui o sonho húmido..."
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